Entrevista Hardcore Thrash Recife

 

Entrevista cedida por mim (Edinho) a Wendell da HTR.

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Dando continuidade as entrevistas, a da vez é a Dejetos. O primeiro show que saquei deles foi em 2008, tava organizando essa parada junto com um pessoal de Barra de Jangada (do finado Barra Underground). De lá pra cá, acho que foram poucos os shows que não assisti, curto pra caralho a banda. Segue aqui a entrevista com o vocalista, Edinho, falando a respeito das gravações, preconceito no underground, Perna Preta, entre outras coisas.

HTR: Quem é a Dejetos? (integrantes e drá)?

Edinho:

Edinho – Vocal

Júlio [Pão Doce] – Bateria

Cesar – Guitarra

Eninho – Guitarra

Chapeta – Baixo

HTR: Quando e como foi formada a banda?

Edinho: Bom a dejetos começou no final de 2006, mas a idéia da banda veio de antes e tal; Cesinha e o ex-baixista (hanzo) tinham a idéia de fazer uma banda de punk-rock, algo no naipe de “Blind Pigs”, e a formação seria Hanzo no Baixo, Massara na batera, Cesinha na guitarra e Maizena no vocal, pois eu nem fui cogitado, pois eu não curtia muito essa vibe de punk-rock. Porém devido à outra banda que eu tinha com hanzo (Imundos, que era cover de Raimundos [huauhauha]) a gente sempre ficava zonando um no ensaio do outro, daí fui fazendo parte da banda (que nessa época tinha apenas uma música) e entrou também na banda Eninho  na guitarra (que também era da Imundos), mas a merda já tava feita, porque eu não gostava de punk-rock, então sempre puxava pro lado mais hardcore da coisa. Maizena a este ponto já não fazia parte da banda, ele nem ia ensaiar e tal.
Bom, resumindo, em maio de 2007 mais ou menos, começamos a ensaiar com a Dejetos (eu, Cesinha, Eninho, Hanzo e Massara) e criamos mais duas músicas. Pouco tempo depois Eninho lavrou da banda (a gente tirou ele. huahuahua) por conta do vestibular (junho de 2007 mais ou menos). Aí chamei meu primo, Diogo, para tocar com a gente, pois o bicho tinha uma banda das antigas de hardcore, em Olinda, a Cocô Vegetal; e essa foi a formação clássica da Dejetos (Agosto/2007) com Cesinha e Diogo nas  guitarras, Massara na batera, Hanzo no baixo e Edinho (eu) no vocal.

HTR: Passando pra formação atual, como se deu a entrada de Chapeta e do Júlio? Conheciam onde, rolou teste?

Edinho: Teste? uhahuahuahu não vei.. rolou teste não.. bom.. a entrada de Chapeta foi engraçada; a gente conhecia ele lá do Janga, ele tinha uma banda de hardcore com uns pirraias de lá e que inclusive tiravam cover da Dejetos (uhahuuha); quando Hanzo lavrou da banda (o bicho chegou num ensaio e disse que tinha morgado de hardcore), foi a primeira pessoa que eu pensei em chamar, ele foi pro ensaio (que foi um desastre, ele era mto metaleiro e num tinha o hardcore na veia huauha), pegou as músicas e no terceiro ensaio ele já tava colocando arranjos novos, a porra toda; tínhamos pensado até em fazer teste com outros, mas Chapeta chegou tão “chegando” que foi meio que impossível pensar em outro. Chapeta entrou em Abril de 2010.

A entrada de Pão Doce foi um pouco mais “tensa”, porque o ex-batera Massara não saiu da banda na moral, como foi o caso de Hanzo, a gente que tirou ele; o bicho tinha o trampo dele, mulher, cachaça e sem contar a falta de compromisso com a banda, ele não queria mais ensaiar, faltava show, resumindo – tava foda. Nessa época eu tava com bastante contato com Júlio (Pão Doce), que eu conhecia desde a época do Missaralara e havia reencontrado com a Political Comedy; a gente se falava de vez em quando e tal, daí as vésperas do show em Candeias, em pleno sábado antes das virgens de Olinda (Olinda beer), Massara liga pra mim de 22h pra dizer que não ia ensaiar (a gente tava há uns três a quatro meses sem ensaiar, porque a gente tava gravando o nosso cd), aí foi meio que a gota d’água, eu liguei pra Júlio no mesmo dia e perguntei a ele brincando se ele queria fazer um bico na Dejetos e ele aceitou, depois a gente conversou com Massara e explicou que num rolava mais e que Pão Doce tinha assumido as baquetas.

Dejetos em rolê no Recife Antigo



HTR: Vocês são a única banda do Janga na atividade?

Edinho: Acho que de hardcore sim. Pelo menos das bandas que a gente conhece e nos influenciaram, tal como DPCA, Mercenários, Aqueles Karas, Violação de Conduta, Simba com Treloso (kkkk) e outras. Como hoje dá mais dinheiro reggae, a turma tá meio que migrando pra essas paradas, conheço alguns caras que tocam reggae hoje, mas que eram do “hardcore”. Sem contar que o próprio bairro não tem uma movimentação de shows de hardcore, o último que eu me lembro foi em 2007, que foi nosso primeiro show.

HTR: Quem escreve as letras? E quem faz a maioria das bases?

Edinho: Bom, inicialmente as letras eram escritas por Cesinha e Erikson (ainda hoje são maioria), porém ultimamente eu tenho me arriscado a escrever algumas coisas, Eninho também e até Júlio tem uma letra, porém não musicamos todas. As bases normalmente são feitas pelos guitarristas (Cesinha, Eninho e Diogo), porém Erikson fez muitas bases de “boca”, mas normalmente o resultado final é meio que da banda toda em geral, por exemplo – eu não sei tocar porra nenhuma, mas sei ficar reclamando que tal parte devia ser assim ou assado (faço até som com a boca); nos guiamos pela base feita por um deles e vamos pensando na música como um todo, mas as vezes acontece de uma “base” chegar tão pronta que a gente (quase) não modifica nada.

HTR: Infanticídio foi uma das primeiras músicas de vocês e o tema dela é bem recorrente. De onde veio a idéia, quem a escreveu? (fala um pouco sobre)

Edinho: Infanticídio foi a nossa terceira música e quem fez ela foi Cesinha, tanto a letra quanto a base, alguns detalhes de break e solo foram adicionados depois. Bem, na época a gente ficou até meio sem saber sobre o que a música falava, pois tinham palavras que a gente não conhecia, tais como, infanticídio e puerperal, mas Cesinha nos explicou que “estado puerperal é a alteração biopsicológica que a mulher pode apresentar no momento do parto ou logo após, podendo ter vários elementos motivacionais, como alterações hormonais, bioquímicas no sistema nervoso central, gestações indesejadas – principalmente por mulheres de baixa condição socioeconômica, dentre outros. Sendo a última a causa que mais afeta à letra infanticídio, bem como a mais rotineira na sociedade” – palavras dele mesmo (huauhahuau).

HTR: Você acha que o hardcore traz alguma coisa de positiva pro indivíduo?

Edinho: Caralho… Acho que sim, tipo música em geral trás algo de positivo, mesmo que seja uma música negativa (satânica). No meu caso, o hardcore, fez com que eu fizesse mais amigos, tivesse contato com culturas completamente diferentes da minha (skinhead, straight edge, posers, etc.), sem contar com o pensar, como assim o pensar, bom, pra inicio de conversa eu jamais, acredito, iria pensar sobre o crime de infanticídio, por exemplo, ou sobre diversos assuntos abordados em letras da Dejetos e de outras bandas também; e pensar é sempre, sempre positivo. Afinal como já discuti com minha esposa, “gosto de pensar que sou apenas mais um no meio do gado, mas um gado que pensa” uhauhahuahuahua. Se não fosse pelo hardcore eu não teria tanto motivos pra rir huauhahua.

No Candeias Rock Trip



HTR: Sobre a gravação do cd, como está o andamento, quantas faixas vão entrar e se já tem nome?

Edinho: Hahahaha essa gravação vai virar uma lenda urbana, vai ser pior do que a gravação da Nação Corrompida. A gente gravou tudo (11 faixas), porém, com a saída de Massara e a entrada de Júlio, o som da maioria das músicas mudou, elas ficaram mais rápida, mais volumosas, aí decidimos gravar tudo de novo; ainda nem começamos, mas estamos nos organizando pra gravar a partir de julho mais ou menos… O outro CD tem nome (tinha?) e seria “Agnosia Compulsória”, mas ainda não decidimos se vai continuar o mesmo nome ou se iremos pensar em algo diferente.

HTR: Qual o melhor show da Dejetos até agora e por quê?

Edinho: Caaaralho, o melhor é muito complicado de dizer, até porque isso é bem pessoal, garanto que se perguntarmos a cada um dos membros eles irão citar shows diferentes, mas posso destacar alguns shows que marcaram a “vida” da banda; o Tributo ao Punk II foi memorável, o show do lançamento do CD da Nark, o primeiro show em Vitória de Sto Antão e esse último show em Candeias.

HTR: O Perna Preta?

Edinho: Então, o perna preta é um coletivo novo, o qual eu faço parte, que irá tentar manter a mesma proposta dos outros coletivos na cena HxTxR, tá ligado? A gente quer manter uma continuidade de shows e o nosso “principal” objetivo é conseguir um local “nosso”, quando digo nosso não falo do coletivo e sim do “underground recifense”.

HTR: Vi um post seu contra a homofobia, achei muito foda! Você acha que o underground tem uma carga de preconceitos? Não só homofobia, mas de outras formas?

Edinho: Sim, muitos. Todo mundo é preconceituoso, todo mundo mesmo; tipo, como eu falei no texto “homofobia, não” xingar um amigo de “viado”, “baitola” ou qualquer outra coisa do gênero é completamente homofóbico, pois como a gente pode supor que ser gay é algo ruim, mas usamos um discurso diferente, dizemos sempre que é “brincando” que não somos homofóbicos, o que nos torna além de homofóbicos, hipócritas.

Outro tipo de pré-conceito pesado na cena underground é o religioso, praticado por muitos e aceito por todo mundo, eu mesmo não gosto muito de bandas “cristãs” (evangélicas principalmente), e confesso que só o fato da banda ter esse cunho góspel já faz com que eu torça o nariz, e isso é foda, eu me limito muito devido a esse meu preconceito; existem muitos outros preconceito que são menos aceitos e difundidos no meio, mas eles existem, julgar o outro por suas diferenças é o maior lazer do ser humano.

Cachaça, môvey!



HTR: E qual a melhor coisa na cena atualmente?

Edinho: Shows descentralizados.

HTR: Definir som é uma merda, mas se fosse pra definir a Dejetos? (agora)

Edinho: Hardcore? seco/sujo/sem firulas.

HTR: Bandas locais que influenciam o som?

Edinho: DPCA (me influenciou a fazer uma banda autoral), Câmbio Negro HC, Os Cachorros (huahuahuahua), Rabujos, Fogomorto, Cocô Vegetal, Nonada; na verdade eu conhecia muito pouco da cena local em geral, apenas bandas de amigos ou bandas que eu ia pra show quando era mais novo.

HTR: Qual o melhor som da Dejetos pra você?

Edinho: Parasitas (minha música – huauahuahua)

HTR: Quais os próximos planos da banda? Além de terminar o cd.

Edinho: Temos um objetivo esse ano de compor/musicar 12 músicas para um próximo CD – além de fechar uma lista legal de covers para tocar em nossos shows, um ou dois por show, mas ficar variando entre eles. Trabalhar melhor o merchandising da banda – camisas, adesivos, chaveiros e tal. Vamos tentar focar em algo mais “profissional”, saca?

HTR: Obrigado a Edinho, e a Dejetos pela entrevista e esse espaço é pra vocês divulgarem alguma coisa, ou deixarem um recado.

Edinho: Como diria Guga: “Comprem CDS” – hauhauhauhauhauha.
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